Mariana Weber

Ex-centro, a jornalista descobriu que é possível resgatar memórias afetivas através das receitas de família.

Quem é você?

Meu nome é Mariana Weber, tenho 42 anos, sou jornalista, escritora e curiosa sobre comida da casa dos outros. Criei a plataforma @ocadernodereceitas, em que resgato memórias ligadas à comida, porque acho que à mesa criamos algumas de  nossas melhores histórias.

Sou também cofundadora da plataforma @excentro_, que traz conteúdo, cursos e experiências para ressignificar a vida longe dos grandes centros. Ah, e sou uma excentro. Durante a pandemia, saí de São Paulo e me mudei para Atibaia.

Já desejou ter outra vida?

Sempre! Adoro a minha vida, mas não quero ficar parada. Ser uma “excentro” passa por isso, por experimentar novas possibilidades. No momento estou adorando ter uma hortinha, tomar café da manhã ao ar livre olhando o mato… Mas vai saber amanhã, né?

“Fui criada para a vida lá fora, não para a vida doméstica.”

Como nasceu o projeto “O Caderno de receitas”? 

Quando comecei a cozinhar para o meu filho, pensei que seria interessante compartilhar com ele sabores que tinham marcado a minha infância. Mas eu não sabia prepará-los: fui criada para a vida lá fora, não para a vida doméstica.

Certo dia, peguei o caderno de receitas da minha mãe e passei a testar os pratos e contar num blog as histórias que eles me traziam. Depois vieram mais cadernos — da minha família e de outras — e memórias de entrevistados (chefs de cozinha e outras personalidades). Aos poucos, fui ganhando mais autonomia na cozinha.

Percebi que falar de comida é um jeito poderoso de contar histórias. São vários detalhes que ajudaram a mergulhar na história das mulheres da minha família e de outras mulheres cujos cadernos chegaram até mim.

Com o chef Roberto Raviolli, no programa “É de Casa”, da Rede Globo.

Descobriu algo em especial nos cadernos de receitas da sua família? 

Sim, são quase sempre histórias femininas. No caderno de receitas mais antigo da minha avó materna, me deparei com ela provavelmente noiva, se preparando e elaborando cardápios para a vida a dois.

No da minha bisavó, encontrei anotações sobre comerciais de TV; entre eles, um anotado como “roupas para gordinhas” — o que me remeteu à cena dela em casa, sempre vendo programas de culinária ou cozinhando.

Alguma dica de como preparar algo rápido, quando não se tem tempo de cozinhar? 

Não é só uma questão de tempo de preparo, é do esforço envolvido e da atenção demandada. Um prato que é a coisa mais rápida do mundo é massa com brócolis. Refoga o brócolis no alho, cozinha o macarrão, junta tudo com um pouquinho da água — se quiser incrementa com tomatinhos ou bacon. 

Outro caminho, mais demorado mas também fácil, é carne de panela: já joga uns vegetais junto e tem uma refeição completa; o que sobrar vira sopa ou molho de macarrão ou recheio de sanduíche… Outro atalho: o forno. Sério. Coloque vários vegetais no forno, temperados com azeite e ervas, dê aquela tostadinha e pronto.

E uma receita gostosa para reunir a família? 

Algo assado, para repartir na mesa. Pode ser um frango, pode ser uma couve-flor inteira. Adoro cobrir com tempero indiano (mix tandori, alho, limão, iogurte, azeite, sal). E uma sobremesa. Uma que amo é a da (chef) Paola Carosella: ameixas tostadas no forno com baunilha e amaretto; sirvo com chantilly de cachaça.

“A cozinha pode ser um espaço de prazer, que mexe com vários sentidos. Eu me permito viver esse prazer.”

Chefs famosas esbanjam estilo na cozinha. Já em casa, a feminilidade pode ser subestimada. Como lida com isso? 

Parte do que me motiva no Caderno de Receitas é isso. Porque muitas mulheres, como eu, abriram mão do espaço da cozinha como uma resposta ao fato de que, por muito tempo, aquele foi um espaço obrigatório para elas. E ele pode ser um espaço de prazer, que mexe com vários sentidos. Eu me permito viver esse prazer. 

Como você nutre a sua autoestima?

Perfeição nunca rolou e agora que não rola mesmo, né? Perceber isso é libertador. Tento não estressar demais com a passagem do tempo. Às vezes consigo… 🙂

E qual sua ideia de felicidade? 

Comida boa na mesa, vinho no copo, risadas em volta.

Defina 2020 em uma frase. E seus desejos para 2021? 

2020: ainda não acabou, tenho até medo de falar. 

2021: o que eu quero é voltar a viajar, entrar nas casas das pessoas, conhecer suas comidas… E não ter medo de abraço.

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