Juliana Kelman

Empresária do ramo de vinhos, ela vive entre Brasil e Portugal, e conta que se permitiu ser mais ousada somente depois de adulta.

Quem é você?

Sou Juliana Kelman, carioca, mãe de 2 meninos e empresária no ramo dos vinhos. Tenho 46 anos.

Por que você decidiu começar a produzir vinhos em Portugal?

A decisão teve motivações emocionais e racionais.  Na época tinha acabado de finalizar o processo de cidadania portuguesa, o que resultou em um resgate dos laços da minha família com Portugal. Meus avós, por parte de pai, vieram do Minho na década de 1940. Também produziam vinho, mas para consumo próprio. Eu já pensava em ter um negócio com algo mais, que não fosse só por razões financeiras. Que fosse realmente importante para mim e que eu gostasse também.

Então eu viajava já com estas idéias na cabeça. Naquele momento, o Brasil estava com a economia forte, prosperando, o  Real era uma moeda forte e o brasileiro estava bebendo muito vinho. Europa , especialmente Portugal , estava saindo de uma crise econômica.  Juntei tudo isso e comprei  uma Quinta no Dão.

“Me considero realizada, mas por que entendo que não existe apenas 1 realização.”

Como é o seu trabalho na vinícola?

Acompanho tudo. Eu gosto muito da fase final da viticultura, quando as uvas estão amadurecendo. É resultado de um ano de trabalhos, e também do que a mãe natureza decidiu nos entregar.

Acompanhar todo o processo é necessário, pois diz respeito a investimentos e decisões que só irão repercutir, muitas vezes, 3 ou 4 anos depois.

Que tipo de relação você estabeleceu com o vinho?

Com a quantidade de referências de vinhos que temos no mundo, ter uma bom produto não é condição suficiente. Você precisa fazer as pessoas saberem disso. E o Marketing me ensinou muito bem como fazer isso. A calibrar expectativas ao longo do tempo.

O conhecimento que faz a diferença para mim é tratar o vinho Kelman como uma pessoa. O líquido é o corpo e a marca é a mente/alma. Um precisa do outro para continuar vivendo.

Vivendo entre Brasil e Portugal, como fica sua rotina de autocuidado?

Normalmente vou a Portugal 4x por ano. No Brasil é mais fácil, pois a rotina é mais ou menos estabelecida. Quando eu estou viajando, sempre é muito corrido e o principal para mim é ter disposição para dar conta de tudo. Por isso, valorizo muito uma boa alimentação, tomo vitaminas , e claro protetor solar  todo dia.

Juliana Kelman, na vinícola Kelman, de sua propriedade, em Portugal.

Já desejou ter outra vida?

Eu tinha um pouco de inveja dos meninos. Eles tinham uma certa licença poética para fazer besteiras. Eles podiam ser mais ousados e até desleixados sem problema algum, sem julgamentos. 

Eles podiam pular o muro da escola, não pentear o cabelo, brigar com um colega na frente de todo mundo …. Eu tinha que ser mais contida, mas controlada, comportada. Eu não me permitia fazer algo que não se esperava de mim. 

Eu me permiti ser mais ousada depois de adulta. Se isso foi bom ou ruim, eu não sei. Eu sei que apesar de tudo, aquele meu jeito mais quieto, me permitia ser observadora. 

Quando você se olha no espelho, o que vê?

Eu vejo uma mulher em eterna transformação. Sempre buscando superar medos e limitações, buscando valorizar todos os tipos de experiência, sejam elas boas ou ruins, pois são estas experiências que nos tornam  serem únicos.

Me sinto em paz comigo mesma, não por que me considero realizada, mas por que entendo que não existe apenas 1 realização eterna. As realizações são muitas e as vezes passam para dar lugar a outra.  

Você precisou se reinventar durante a pandemia?

Muitas vezes. A ideia de ter que ficar em casa me assustou. E sempre busquei tentar fazer deste período o mais prazeroso possível. Beber vinhos ao longo da semana depois que o dia terminava era um momento que passou existir durante a pandemia. Pensar nesses acompanhamentos gostos, conversar muito mais com meu marido e filhos.

Mas, agora, confesso que já estou de saco cheio de me reinventar. No fundo, quero ter um pouco da minha vida pré-pandemia  de volta.

Para você, o que é felicidade?

Felicidade para mim é acompanhar as conquistas dos meus filhos, é poder avançar nos meus projeto, testar minhas idéias sem medo, estar com minha família e meus amigos, comer e beber bem. Eu adoro quando um vinho harmoniza com um prato que estou comendo. É pura luxúria.

Qual brinde você gostaria de fazer em 2021?

Sem  dúvida, gostaria de brindar o fim da pandemia.  Brindar, literalmente, a vida!

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