Larissa Noé

Artista visual e fotógrafa, Larissa Noé fotografou o corpo de 6 mulheres, que possuem marcas de diferentes naturezas, para falar de autoestima e autoaceitação. 

Quem é você?

Sou a Larissa Noé, tenho 22 anos e estudo artes visuais. Também sou fotógrafa. Amo fotografar, desde criança. 

Sábado, dia 26/06, você lança um projeto em que fotografou corpos femininos e suas marcas. Pode contar um pouco sobre o projeto?

O Projeto Corporecer tem o Apoio da Lei Aldir Blanc e nasceu de uma vontade de falar sobre autoestima e de questionar padrões de beleza. Todas as mulheres carregam marcas no corpo, de diferentes naturezas, mas o universo delas não gira em torno disso. 

Ao mesmo tempo, precisam construir uma autoestima diante de uma sociedade que sempre questiona e julga essas marcas e quer apagá-las. 

São 42 fotos, que ficarão expostas em um site (corporescer.com.br/), em que também faço uma correlação entre as texturas e marcas das silhuetas e das plantas.

Qual o impacto que você espera que essas imagens provoquem nas pessoas?

Quero levar esperança e afeto para mulheres que se olham de uma maneira muito rígida. Espero que as minhas fotografias possam gerar nessas mulheres uma sensibilidade em torno de suas marcas, que elas considerem enxergá-las como algo único. 

A beleza está na diferença, não faz sentido depreciar ou apagar as histórias que o tempo e as experiências de vida deixam no nosso corpo.

Folder de divulgação do projeto fotográfico Corporescer, de Larissa Noé. A exposição é virtual e começa amanhã (veja o serviço completo no fim da entrevista).

Qual foi a sua motivação em realizar esse projeto?

Sofri um acidente de carro muito grave aos 11 anos, e fiquei com um corte profundo no meu rosto, além de outros cortes pelo corpo. Levei mais de 60 pontos no rosto.

Lembro que, ainda hospitalizada, tive que encarar a minha imagem no espelho pela primeira vez, e vi refletida a imagem de uma menina com um rosto desfigurado, todo costurado. Foi um momento de negação, de medo, de pânico, de tristeza. Um momento de ruptura de sonhos.

Passei a adolescência sofrendo as dores de carregar essa cicatriz. Nunca consegui me desvincular, pois sempre tinha alguém que me perguntava sobre isso. Tive que amadurecer muito nova. Foi muito duro.

Como você aprendeu a alimentar a sua autoestima?

Fui aprendendo a conviver com essas marcas com o tempo. Não é um processo linear, estou sempre reconstruindo essa relação com elas (as marcas). Com o tempo, comecei a ressignificar a minha relação com a minha imagem e isso veio com os diferentes aprendizados, desafios e experiências de vida. 

Entendi que a minha autoestima não está conectada com a minha aparência, ela vai muito além disso. Tem a ver com meu intelecto, com as coisas que realizo, com a pessoa que sou.

Apesar de tudo, nunca tinha vontade de fazer qualquer cirurgia para disfarçar as marcas, não sei bem o porquê. Hoje vejo essas marcas como partes da minha história. 

Autorretrato de Larissa, realizado durante a quarentena da Covid-19.

Como é a sua relação com a fotografia?

Ganhei a minha primeira câmera de aniversário, do meu pai, aos 8 anos de idade. Sempre quis ter uma câmera. Morava numa área rural e comecei a fotografar o meu cotidiano no campo, especialmente o mato, a natureza que tinha perto de casa. 

Aos 15 ganhei uma câmera melhor de aniversário e senti ainda vontade de estudar fotografia. Passei, então, a colaborar com a comunicação de um movimento social Levante Popular da Juventude, em Juiz de Fora.

Lá trabalho com uma fotografia documental, algo diferente do meu trabalho pessoal, que carrega uma poética em torno do universo feminino.

De que forma a pandemia impactou a sua vida?

Como todo mundo, de repente me vi presa em casa, mas teve um lado positivo. Passei a experimentar o autorretrato, um tipo de fotografia que nunca havia feito. Isso partiu de algumas inquietações, e acabou virando uma série de auto-retratos chamada Liliti, do Mito ao Mundo.

Nas fotos, estou nua, mas sem erotização. Quis retratar o feminino como parte da natureza. 

Larissa com Thalita, uma das fotografadas, durante a sessão de fotos do Projeto Corporescer.

Beleza é…

Sentir orgulho de quem você é e daquilo que conquistou.

Qual a sua ideia de felicidade?

Felicidade tem a ver com liberdade. Ela está em pequenos momentos.

Se pudesse resumir 2021 em uma imagem, como seria?

Teria uma luz turva e aterrorizante, sem muita distinção de formatos, algo que causa desconforto. Uma imagem confusa, que nos tira da zona de conforto e nos transforma de alguma forma; que faz com que a gente repense, ressignifique.

SERVIÇO
Projeto Corporescer, de Larissa Noé.
A partir de 26/06/2021 (por tempo indeterminado).
Acesse: www.corporescer.com/ 

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